O fio da memória
Com muitos fios se tece a memória de um povo. A Associação Xarabanda, desde a sua fundação, tem-se dedicado a recolher, estudar e divulgar, em primeiro lugar, todos os aspetos da tradição musical madeirense. Esta tarefa tem assumido muitas formas: recolhas com os detentores da tradição, edição dos fonogramas resultantes ou das suas transcrições, adaptação para inclusão no seu reportório, etc.
Sabemos que a tradição é uma realidade em constante mutação. Desde sempre, as suas manifestações foram sendo criadas, evoluindo e, quantas vezes, substituídas por outras, mais ao gosto das populações, ou mais adequadas a novas modas, a outros tempos.
A preservação da nossa memória regional faz-se, também, pelo registo das sucessivas formas que a tradição assume. Foi com essa consciência que nos lançámos a este projeto: mostrar alguns exemplos do que de melhor persiste na memória popular das formas musicais mas caraterísticas da música tradicional madeirense.
O nosso objetivo era dar uma panorâmica o mais alargada possível do que é hoje a nossa tradição. Tentámos diversificar os intérpretes, tendo como preocupações centrais a relevância dos trechos interpretados, a par da qualidade da execução. Fomos à procura de exemplos dos diferentes géneros musicais. Deste trabalho resultou a edição que agora apresentamos.
Agrupámos as recolhas efetuadas por géneros musicais, tornando mais fácil a compreensão da diversidade destes e a constatação de algumas caraterísticas que partilham.
Pensamos ter conseguido dar uma imagem de qualidade e variada do que é a música tradicional da Madeira e Porto Santo.
Jorge Torre
(Antropólogo)